Uma liderança política de extrema esquerda pode atrair eleitores da extrema direita?
Alguns argumentam que a ascensão de Sahra Wagenknecht na Alemanha confirma a chamada "Teoria da Ferradura"
Uma liderança política de extrema esquerda pode atrair eleitores da extrema direita? O caso de Sahra Wagenknecht sugere que sim. Ela é uma das principais vozes do partido alemão de extrema esquerda Die Linke. Mas, recentemente, a revista Compact, publicação ligada ao partido AfD, de extrema direita, estampou a foto de Wagenknecht em sua capa com o título: "A melhor primeira-ministra: uma candidata para a direita e para a esquerda".
A ascensão de Wagenknecht parece confirmar a chamada "Teoria da Ferradura", segundo a qual a extrema-esquerda e a extrema-direita, ao contrário de serem extremos opostos de um espectro político linear e contínuo, de fato acabam se aproximando, da mesma forma que o formato de uma ferradura.
Várias ideias de Wagenknecht são populares junto a eleitores da extrema-direita: ela é anti-OTAN, antiglobalização e vista como pró-Rússia. Sua postura contra a elite e o establishment também é popular entre eleitores de extrema-direita, e ela recentemente chamou o Partido Verde de "agremiação mais perigosa no parlamento" – opinião compartilhada entre aqueles que negam a existência das mudanças climáticas.
Em uma pesquisa recente, 66% de eleitores do AfD admitem que poderiam votar nela, e há boatos de que ela esteja prestes a lançar um novo partido para atrair eleitores tanto de extrema-esquerda quanto da extrema direita. Mesmo assim, é preciso lembrar que os extremos podem defender posições semelhantes, mas por motivos totalmente distintos: a extrema esquerda rejeita a globalização porque quer limitar o papel das multinacionais e do capitalismo, enquanto a extrema direita se opõe à globalização por achar que ela representa um risco ao nacionalismo e à cultura local, uma postura conhecida como "antiglobalismo".
No mundo acadêmico, a teoria da ferradura é criticada com frequência – mas não há dúvida de que, se Sahra Wagenknecht de fato lançar seu próprio partido, será um interessante estudo de caso, o de uma tentativa de reunir os extremos em um partido só.